quinta-feira, 29 de julho de 2010

texto de snippet

Era uma vez um garoto. E ele não era comum. Não era divertido. Não falava alto. Nem jogava futebol. Mas ele tinha amigos. E isso bastava.

Suas refeições eram bem simples. No café-da-manhã comia sonhos. No almoço, um prato de imagens e um copo cheio de sons era o suficiente. À tarde, no lanche, comia livros. No jantar, tomava sopa de internet com canudinho. Numa dessas noites, quando ele tomava sopa, uma mosca veio voando e jogou um ovinho lá dentro. O ovinho eclodiu, e surgiu uma larvinha. Essa larvinha se chamava Camila. Todas as noites, enquanto o garoto tomava sua sopa de canudinho, ele e a larvinha conversavam. Em menos de dois anos, a larvinha tornou-se a grande melhor amiga do garoto. Com o passar do tempo, ele descobriu que, ao contrário do que se esperava, o ovinho não era da mosca. Crescia ali uma linda e delicada borboleta. Mas havia um grande problema: eles não podiam chegar muito perto um do outro, por mais que quisessem. Apesar disso, a amizade entre eles cresceu de forma encantadora.

E isso era só no jantar. Num certo ano, quando ele comia sonhos já na escola, chegou ao seu prato – de sonhos – uma semente. Era bem pequena, mas tinha certo brilho. Toda manhã, durante sua refeição, ele acompanhava o crescimento dessa semente, até virar um broto, um botão, uma flor, e finalmente uma onipotente árvore. E o nome dessa árvore era Renata. Toda manhã, ele fazia questão de subir nessa árvore. E isso era bom. Porque lá encima sempre ia um bando de muitos passarinhos verdes. E isso bastava para que ele e a árvore dessem muitas risadas. E nessa árvore havia um grande galho. E era nele que o garoto ficava quando estava na árvore. Não era um galho comum. Era mais escuro que os outros, e tinha um sobrenome. Tinha uma incrível inteligência própria. Além de uma beleza peculiar e extremamente impressionante. E o nome desse galho era Ana Caroline. Durante um ano inteiro ele ficou sentado no galho daquela árvore. E foi um tempo muito feliz.

Em mais um dia em que ele estava sentado naquele galho daquela árvore, o garoto se deparou com uma cena curiosamente simples. Ali, naquele galho escuro, com sobrenome, e diferente de todos os outros, surgia um lindo e singelo botão. Não era um botão qualquer. Sua beleza era fora do comum. E o garoto passou a acompanhar o crescimento daquele botão durante todos os dias, sempre de manhã. Enquanto comia mais um de seus pratos de sonho. E então viu que o botão havia desabrochado. Ali, arrumado naquele galho exótico, estava uma belíssima tulipa rosa. Não havia nada mais lindo que aquela flor. Imediatamente acolheu a tulipa como se já a tivesse há muito. E o nome dessa linda tulipa era Bruna. Nutria pela flor um sentimento muito bonito. Algo que jamais achava que seria possível. E por um ano inteiro, ele subiu na grande árvore, sentou no forte galho e admirou a linda flor. E esse também foi um tempo feliz.

Mas o tempo passou. O garoto viu que precisaria descer da árvore. E chorou. Despediu-se da flor, do galho e da árvore. Teria que dividir seu mais precioso bem com outras pessoas. Desceu. Mas não se afastou. Ficou ali, sentado nas raízes da árvore. Pouco tempo depois, a tulipa rosa caiu delicadamente em seu ombro. E ele acariciou suas pétalas como se fosse um rosto. Riram juntos. E o garoto olhou para cima. O galho escuro continuava lá. Estava difícil descer. Apesar disso, o enorme carinho e admiração que sentia pelo galho continuou de pé.

E passamos para o lanche. Numa tarde, enquanto comia mais um livro, um passarinho veio voando e pousou no topo da página. Ficou olhando atentamente para ele. Não era um passarinho comum. Era bem pequeno, e tinha um biquinho fino. E o garoto ficou encantado. O bichinho começou a cantar. E voou até seu ombro. Numa outra tarde, desceu um lindo anjo. Na verdade, era uma linda anja. E chegou perto. Levado pela auréola, o garoto deixou-se encantar. E o passarinho acabou pairando na periferia de sua visão. Numa outra tarde, a auréola se partiu. A anja se foi. E o passarinho voltou. Glorioso. Dessa vez, para o bolso da camisa do garoto. Estava aninhado em cima do coração. E toda tarde, enquanto o garoto comia mais outro livro, ele e o passarinho ficavam juntos por uns instantes. Nos outros, o passarinho precisava voar. E seu nome era Larissa.

Maravilhado com o que sua simples refeição de sonhos e livros havia lhe proporcionado, o garoto procurou em outros lugares as mesmas coisas que encontrara antes. A princípio, não achou. Tentou usar uma lente de aumento. Se havia alguma coisa, era invisível. Então começou a catar. Um a um, os pedaços foram transformando-se em fotografias. Algumas se revelaram em tom de sépia. Outras em preto e branco. Havia ainda aquelas que vinham em negativo. Alguma coisa estava errada. E havia tantas fotografias assim, que preencheram três grandes álbuns. Ao contrário do que se esperava, o garoto não pôs legendas em nenhuma dessas fotos. Não era necessário. Não ficaria legal. Nem muito menos convincente. Por fim, ele achou uma fotografia virada de cabeça para baixo. Já estava pronta. Isso era estranho. No geral, era ele quem as montava. Mas essa já veio inteira. Ele pegou a foto e virou. Seus cantos estavam em sépia. Mas ele notou algo. As cores eram harmônicas, e o brilho era simplesmente perfeito. Rapidamente, os cantos tomaram vida. A combinação colorida contagiou o garoto. E ele ficou encantado. Sempre que olhava para a foto, sentia vontade de abraçá-la. A admiração era grande. O carinho era maior. Pôs a fotografia no bolso interno, muito próximo ao coração. Passou a carregá-la por todo lugar que ia. E o nome dessa fotografia era Kellen.

Enquanto carregava a fotografia colorida, uma pluma atingiu o pescoço do garoto. Era leve. Suave. Delicada. Mas ali, bem no talo central, ele via uma manchinha escura. Assim como com a fotografia, sempre que a via, sentia vontade de abraçá-la. E essa pluma despertou nele algo realmente muito diferente. O poder do abraço. Era mágico. Era uma saudação. Fraternal. Por mais que quisesse, ele não via a pluma o quanto queria ver. Isso era triste. Mas também era consolador. O importante era vê-la. Ainda havia tempo para eles se verem. Muito. E essa pluma se chamava Ana Esther.

Encantado com a recuperação de coisas realmente muito valiosas, o garoto parou. Olhou. Admirou sua coleção de bens, e viu o quanto era sortudo. Sorriu. Olhou para si mesmo. Re-observou a importância de todas aquelas suas refeições. Descobriu-se com um segredo há muito já descoberto. Era capaz de voar.


Era uma vez um garoto.

Um comentário:

  1. Eu finalmente entendí o que são os Snippets '-'

    parabéns novamente irmão (:

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